sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tirando o gesso da mente


Apesar de nunca ter passado por outro regime, a história me mostra que, apesar dos pesares viver na democracia é o caminho mais correto, onde o peso das palavras proferidas é colocado em pé de igualdade, e que as ideias são livres para serem jogadas ao vento ou trabalhadas para sua concretização. Mas um país que se diz viver sob os preceitos igualitários parece mais aprisionado do que na época da ditadura militar, pelo menos no campo intelectual.
Liberdade! Só possível de compreensão quando experimentada. Assumimos faces diferentes ao longo do dia. Mesmo sem perceber, escolher a frase certa, a expressão certa, a roupa certa, o tom de voz, os assuntos a tratar, como se portar é uma prática diária do ser humano diante dos seus semelhantes e situações insurgentes. A “liberdade de expressão” tão defendida por todos se torna ela própria, instituição regulatória da imaginação, controlando e censurando a criatividade.
Surge o medo! O medo de parecer diferente, te ter uma opinião que se distancie do que a grande parte da população entende como verdade. Aqueles que se arriscam a tentar convencer que não se preocupam com a trivialidade, pecam justamente no que diz respeito a “tentar convencer”, passam a viver novamente a infância onde o primeiro xingamento dito, parece libertar a mente diante de tamanha pressão social, uma falsa sensação de liberdade, contudo não passam de crianças sujeitas a ficarem olhando a parede por algum tempo como punição. E é esse fato que faz com que muitos apenas deixem de falar “palavrões”.
As pessoas são livres para comprar o que seus recursos financeiros lhes proporcionam. O consumismo hoje, não se limita apenas a obtenção de bens materiais, mas também coisas que não são palpáveis, apenas observadas, usadas, a informação. Consumimos informação como nunca aconteceu, o acesso se tornou fácil, mas se por um lado as pessoas estão mais informadas sobre tudo que os rodeia, o conhecimento fica cada vez mais escondido na superficialidade, as tornando apenas espectadores.
O momento eleitoral que presenciamos serve para demonstrar a que ponto chegamos. Passamos a adotar o termo “menos pior” para nos referir ao futuro governante, tendo em vista a quantidade de gente desqualificada, nos seguramos tão firme no candidato escolhido, que entra não mais no mérito da melhoria esperada deste, feita no período determinado pelo mandato, mas pelo orgulho de querer que o candidato escolhido vença, como assistir e torcer por um time em um jogo de futebol. O nome disso é vaidade intelectual.
O engraçado é que parece que não lidamos com problemas tão grandes como há décadas sombrias, digo isso mediante as pessoas que insistem em tachar gerações como “perdidas”, que tudo parece comodismo. Meu avô que me desculpe, mas os problemas hoje não se tratam apenas de escolher um dos lados, se trata da busca constante pela identidade, da formação da personalidade, não essa que saem em moldes construídos através da busca aloprada de informação usando dos meios midiáticos, mas a uma luta de um indivíduo contra o mundo que o observa e serve de carrasco quando se comete o erro. Pode-se falar o que quiser, fazer o que quiser, desde que não ultrapasse os direitos dos outros, mas é extremamente “proibido” se expressar da maneira que lhe parecer mais verdadeiro, não se utilizando do senso comum, nada contra, ele tem sua serventia, mas a um universo na cabeça de cada indivíduo, ou seja, uma infinita possibilidade de expressão. Espera aí! Podemos sim, afinal estamos ou não estamos em uma democracia?
Os dias são sempre iguais e, não se trata de rotina simplesmente, esta não é um atestado de tédio, de improdutividade intelectual, já se dizia que a prática leva a perfeição, a insistência leva a providência, fato esse que grita querendo desesperadamente ser ouvido. O ser humano foi feito para descobrir, para experimentar, para cometer erros e superar-se. Precisamos arriscar mais no campo intelectual, a pior ditadura não é a física, como de outrora, por que está diante dos nossos olhos, então podemos ver. Contudo a ditadura intelectual engessa nossas mentes nos tornando meros repetidores de ideias, seja ela boa ou ruim, não sabemos distingui-las.